segunda-feira, 28 de março de 2011

2º ANOS - CREI: EXCLUSÃO SOCIAL: FAVELAS, EMILE DURKHEIM, ESCOLA DE CHICAGO, MICHEL DE FOUCAULT,

ATIVIDADE DE SOCIOLOGIA 2º ANOS - COLÉGIO JESUS CRISTO REI - 2011 !
OLÁ ALUNOS, LEIAM O TEXTO ABAIXO, E RESUME-O.
Ricos e pobres, cada qual em seu lugar: a desigualdade socio-espacial na metrópole paulistana

EMILE DURKHEIM
Durkheim assistiu e participou de acontecimentos marcantes e que podemos notar diretamente em sua obra, pelas conseqüências diretas da derrota francesa e das dívidas humilhantes da guerra, e por uma série de medidas de ordem política.
Vivenciou em momento de crises econômicas, onde provocaram conflitos entre as classes trabalhadoras e os proprietários dos meios de produção, influenciando assim, sua afirmação de que os problemas da sociedade européia eram “morais” e não econômicos, acontecendo freqüentemente devido à fragilidade da época.
Desenvolveu um método próprio para seus estudos, incluindo o suicídio, devido ao enorme índice constatado por ele. Acreditava também, que os seus estudos pudessem ajudar a sociedade futuramente.
Seu posicionamento frente às mudanças é defender a tese de que a Sociologia é “uma ciência essencialmente francesa”, dado seu nascimento com Augusto Comte. E que a atividade intelectual sociológica de seus discípulos foi superada pelas preocupações políticas. E a Sociologia imobilizou-se durante toda uma geração na França. Mas prosseguira, enquanto isso, seu caminho na Inglaterra, A França pós-napoleônica e viveu um período marcante que só se interromperia momentaneamente com a Revolução de 1848. Podemos notar a preocupação de Durkheim quando pensava e/ou dizia:

“... É tempo de entrar mais diretamente em relação com os fatos, de adquirir com seu contato o sentimento de sua diversidade e sua especificidade, a fim de diversificar os próprios problemas, de determinar e aplicar-lhes um método que seja imediatamente apropriado à natureza especial das coisas coletivas...”

Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras, sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. O homem que inovou construindo uma nova ciência inovava novamente se preocupando com fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia.
A sociologia, entretanto, permaneceu embrionária durante um longo período, percebendo Durkheim, de que a sociedade era basicamente um produto da ação humana, fruto, pois da arte e da reflexão das pessoas. Havia um certo consenso em relação a este pressuposto racionalista em que o coletivo seria uma construção deliberada de um grupo. A sociedade deveria ser vista e estudada como um fato natural, e, portanto deveria ser regida pelas mesmas leis da natureza, apenas foi encontrar eco. Fora da sociedade o homem não existe, ele se torna egoísta. Acentua um reaquecimento dos ideais coletivos para garantir coesão social.
Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de “Socialização”, a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse “tudo” ele chamou de “Fatos Sociais”, e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.
Durkheim acreditava que as sociedades têm prioridade lógica sobre os indivíduos, porque se a solidariedade mecânica precede a solidariedade orgânica, não se pode explicar a diferenciação social a partir dos indivíduos, pois a consciência de individualidade não pode existir antes da solidariedade orgânica e da divisão do trabalho social. Acreditando em duas formas de solidariedade social podem ser constatadas: a Solidariedade mecânica típica das sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. Reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. E a solidariedade orgânica, característica das Sociedades
Capitalistas, onde, através da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos costumes, tradições etc. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes e necessários, como os órgãos de um ser vivo. Assim, continuava dando efeito na divisão do trabalho não um aumento da produtividade, mas a solidariedade que continuaria a gerar entre os homens.Durkheim deixa claro que, o importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica interiorizada e não meramente mecânica.
Daí que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade, e não a coletividade pelos fenômenos individuais. Onde a divisão do trabalho ser um fenômeno social que só pode ser explicado por outro fenômeno social, como a combinação do volume, densidade material e moral de uma sociedade, sendo que o único grupo social que pode proporcionar a integração dos indivíduos na coletividade é a corporação profissional.
Durkheim propõe, com sua sociologia formular uma teoria do fato social, demonstrando que pode haver uma ciência sociológica objetiva e científica, como nas ciências físico-matemáticas. Para que haja tal ciência são necessárias duas coisas: um objeto específico que se distinga dos objetos das outras ciências e um objeto que possa ser observado e explicado, como se faz nas ciências.
Podemos dizer que o método sociológico de Durkheim apresenta algumas idéias centrais, que percorrem toda a extensão de sua visão sociológica. São elas:
Contraposição ao conhecimento filosófico da sociedade: A filosofia possui um método dedutivo de conhecimento, que parte da tentativa de explicar a sociedade a partir do conhecimento da natureza humana. Ou seja, para os filósofos o conhecimento da sociedade pode ser feito a partir de dentro, do conhecimento da natureza do indivíduo.
Os fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos: a sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana, mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana é, na verdade, produto da própria sociedade. Os fenômenos sociais são considerados por Durkheim como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interação dos fatos sociais.
Os fatos sociais são uma realidade objetiva: ou seja, para Durkheim, os fatos sociais possuem uma realidade objetiva e, portanto, são passíveis de observação externa. Devem, desta forma, ser tratado como "coisas".
O grupo (e a consciência do grupo) exerce pressão (coerção) sobre o indivíduo: Durkheim inverte a visão filosófica de que a sociedade é a realização de consciências individuais. Para ele, as consciências individuais são formadas pela sociedade por meio da coerção. Para Durkheim estamos no caos devido à falta de moral na sociedade. A moral está ligada ao consciente coletivo, e só através deste podemos moldar nossa atuação social, particular, intelectual e econômico, encarando a moral como social.
Para Durkheim existem regras morais a serem seguidas pelos indivíduos, pela sua maneira de ser e de agir e podem ser coagidos pelo fato social, a reações inversas exercidas pela falta de moral.
A solução estaria em seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros.
Portanto para Durkheim, fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos. São fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas, sistemas, maneiras de agir, costumes, etc.

Para Durkheim os fatos sociais são considerados como ‘coisas’.
Fatos sociais: nem todos os fatos designados de social são fatos sociais, e há alguns que se distinguem dos estudados pelas outras ciências da natureza. O pesquisador deve isolar o fenômeno estudado de idéias individuais impostas ou pressuposto, analisando particularmente o fenômeno na forma em que se encontra, orientando-se pela natureza das coisas.

Durkheim diferencia o fato social normal do patológico.
O fato social é normal quando voltado a um tipo social delimitado, ou seja o aborto e o crime é considerado como normal, porque sempre irá existir.
Patológico quando avança esta taxa dita ‘normal’. Numa sociedade isolada das grandes civilizações são aceitas certas atitudes, comportamentos e costumes que são ‘normais’ aos habitantes desta, mas que seriam tido como atos doentios, ilegais, ‘patológicos’. ou seja, doenças e chagas.

Características dos fatos Sociais:
Generalidade: é a comunhão no pensar, agir e sentir de um grupo de pessoas. Todos tem os ‘mesmos’ comportamentos, seguem os mesmos parâmetros e limites.
Exterioridade: é aquele fato que este intrínseco no indivíduo. Mesmo que o indivíduo queira roubar, matar ou cometer qualquer ato ilícito, ele não o fará, mas não por que está proibido pela lei para tais atos, mas por estar acima de sua vontade o limite do que pode ou não ser feito.
Coercitividade: É a obrigação do indivíduo a seguir determinada orientação, conceito ou norma já preestabelecida pela sociedade (Estado).

ESCOLA DE CHICAGO

A Escola Sociológica de Chicago, ou Escola de Chicago, surgiu nos Estados Unidos, na década de 1910, por iniciativa de sociólogos americanos que integravam o corpo docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, fundado pelo historiador e sociólogo Albion W. Small.
Tanto o Departamento de Sociologia como a Universidade de Chicago receberam inestimável ajuda financeira do empresário norte-americano John Davison Rockefeller. Entre 1915 e 1940, a Escola de Chicago produziu um vasto e variado conjunto de pesquisas sociais, direcionado à investigação dos fenômenos sociais que ocorriam especificamente no meio urbano da grande metrópole norte-americana.
Com a formação da Escola de Chicago inaugura-se um novo campo de pesquisa sociológica, centrado exclusivamente nos fenômenos urbanos, que levará à constituição da chamada Sociologia Urbana como ramo de estudos especializados.

Contexto histórico
O surgimento da Escola de Chicago está diretamente ligado ao processo de expansão urbana e crescimento demográfico da cidade de Chicago no início do século 20, resultado do acelerado desenvolvimento industrial das metrópoles do Meio-Oeste norte-americano.
Como decorrência desse processo, Chicago presenciou o aparecimento de fenômenos sociais urbanos que foram concebidos como problemas sociais: o crescimento da criminalidade, da delinquência juvenil, o aparecimento de gangues de marginais, os bolsões de pobreza e desemprego, a imigração e, com ela, a formação de várias comunidades segregadas (os guetos).
Todos esses problemas sociais (na época se utilizava o termo "patologia social") se converteram nos principais objetos de pesquisa para os sociólogos da Escola de Chicago. O mais importante a destacar é que os estudos dos problemas sociais estimularam a elaboração de novas teorias e conceitos sociológicos, além de novos procedimentos metodológicos.

Ecologia humana
Robert Ezra Park, considerado o grande ícone e precursor dos estudos urbanos, Ernest Watson Burgess e Roderick Duncan McKenzie elaboraram o conceito de "ecologia humana", a fim de sustentar teoricamente os estudos de sociologia urbana.
O conceito de ecologia humana serviu de base para o estudo do comportamento humano, tendo como referência a posição dos indivíduos no meio social urbano. A abordagem ecológica questiona se o habitat social (ou seja, o espaço físico e as relações sociais) determina ou influencia o modo e o estilo de vida dos indivíduos.
Em outras palavras, a questão central é saber até que ponto os comportamentos desviantes (por exemplo, as várias formas de criminalidade) são produtos do meio social em que o indivíduo está inserido.
O conceito de ecologia humana e a concepção ecológica da sociedade foram muito influenciados pelas abordagens teóricas do "evolucionismo social" - marcante na sociologia em seu estágio inicial de desenvolvimento -, ao sustentarem uma analogia entre os mundos vegetal e animal, de um lado, e o meio social integrado pelos seres humanos (neste caso, a cidade), de outro.
Considerando, então, a cidade como um amplo e complexo "laboratório social", as pesquisas sociológicas foram marcadas pelo uso sistemático dos métodos empíricos (para coleta de dados e informações sobre as condições e os modos de vida urbanos).

MICHEL DE FOUCAULT
Michel Foucault, ao examinar a formação histórica das sociedades dos séculos XVII a XIX, através de um estudo minucioso sobre o nascimento da prisão, debuxa um exercício do poder diferente do exercido pelo Estado, exigindo deste um repensar institucional, descortinando a história dos domínios do saber e, ainda, o interrogar do pensamento pelo próprio pensamento, no que diz respeito à análise dos preceitos de internamento.
Foucault se concentra na formação do poder como produção de toda uma hierarquia que se realiza a partir da troca entre saberes disciplinares nas mais diversas instituições, sejam elas propriamente repressivas (tal qual a prisão e as forças armadas); econômica (como as fábricas) ou até pedagógicas (como as escolas).
Segundo Foucault, nesta troca, o que caracteriza o conjunto hierárquico como vida é o poder difuso, e não o uso privado pelo topo da hierarquia.
Percebe Foucault que os séculos XVII a XIX não foram apenas um marco na regulamentação escrita dos exércitos, escolas, prisões, hospitais e fábricas, mas que se persegue principalmente uma idéia construtiva de conversão do homem em máquina.

É algo com a intenção de tornar o indivíduo útil, dócil e disciplinado através do trabalho.
Esse tipo específico de poder que se expande por toda a sociedade, investindo sobre as instituições e tomando forma em técnicas de dominação, possui, segundo Foucault, uma tecnologia e história específica, pois, atinge o corpo do indivíduo, realizando um controle detalhado e minucioso sobre seus gestos, hábitos, atitudes, comportamento, etc.
Essa ação sobre o corpo não opera simplesmente pela consciência, pois, é também biológica e corporal. É, pois, justamente esse aspecto que explica o fato de que o corpo humano seja alvo, pela prisão, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para adestrá-lo e aprimorá-lo. Isto converterá segundo Foucault, numa riqueza estratégica e numa eficácia positiva.
É, portanto, no seu livro “Vigiar e punir” que Foucault dará um novo e definitivo passo na busca do pensar de outra forma diferente das formações históricas, onde ele pondera que essa referência não exclui outras possíveis já que não é única, quer no sentido do curso sucessivo do tempo, quer no âmbito interno de uma época.
Na perspectiva de elucidar a configuração dos saberes, sua origem, seu funcionamento, e ainda demonstrar de que modo esta configuração está vinculada a modos de exercícios do poder, Foucault realça as correlações entre os discursos e a estrutura social.
A genealogia foucaultiana encara o poder tal como este o é de fato. Não procura explicar, mas expõe o que acontece, de modo a nos tornar familiar esse discurso de fatos que destroem idéias e evidências anteriores, bem como referências que apenas escondem os fatos.
O poder aparece selvagem, bárbaro, inumano e se torna evidente que este tem uma perspectiva própria, específica, irredutível.
Diante de tal fato, Foucault muda a escala de descrição e análise, onde se percebe sua atenção voltada para os detalhes do poder, daqueles que o exercem, ou a ele são submissos, confrontando-os uns com os outros.
Para Foucault devemos descartar, definitivamente, qualquer visão de conjunto da sociedade para nos voltarmos para a genealogia física do poder, pois o corpo do poder aplica-se a outros corpos, considerando assim, a lei do exercício do poder um corpo-a-corpo, uma luta, uma guerra.
O corpo político é o conjunto dos elementos materiais e técnicos que servem de armas, prolongamentos, pontos de apoio às relações de poder sobre outros corpos, gerando as prescrições, as reformas, as disciplinas, etc.
Segundo Foucault, a anatomia política desenvolve seus efeitos segundo três direções privilegiadas: o poder, o corpo e o saber. Essas direções não são isoladas uma das outras, pois, correlacionam-se.
Ensina Foucault que toda uma tradição falou do poder procurando sua origem, suas condições, suas causas, reduzindo ou aplicando-o a outra coisa, quando afirmou:

"...foi preciso esperar o século XIX para saber o que era a exploração; mas talvez ainda não se saiba o que é o poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível, presente e oculta, investida em toda parte, que se chama poder."

O poder não tem essência, porque é operatório. Não é atributo, mas relação de forças que passam tanto pelos dominados quanto pelos dominadores, ambos constituindo singularidades.
O poder incita, suscita, combina, reparte, coloca em série, compõe, normaliza. Sua imagem é a luta, a batalha, a guerra. Desta forma, a repressão e a ideologia são apenas a poeira levantada pelo combate.
Foucault aponta que as leis são uma gestão de ilegalismos. Elas organizam, explicitamente, o meio de não cumprir as outras, investindo contra a concepção de liberdade negativa proposta pelos liberais, materializada na universalidade jurídica da lei.
Os ilegalismos, afirma Foucault, fazem parte dessa resistência. A lei, portanto, é a própria guerra e a sua estratégia em ato. Uma batalha de corpo-a-corpo, onde o poder não só reprime a resistência, como a faz surgir.
Em seu escrito “Vigiar e punir”, Foucault irá demarcar o nascimento da prisão no século XIX, como uma instituição de fato. Esta surge sem uma justificação teórica, aparecendo num determinado momento como necessária na construção da rede do poder para controlar todas as formas de ilegalismos, dividindo e opondo uns aos outros.
Ao focalizar explicitamente o estudo da prisão e as práticas jurídicas, Foucault opõe-se mais uma vez ao Direito clássico. Ali é afirmado ser o surgimento da prisão uma ascendência da reforma do Direito penal do século XVIII, promovida pela combinação do controle moral e social dos indivíduos na Inglaterra combinada com a instituição estatal francesa de reclusão, com local e edificação definidos.
Ao longo desse estudo sobre a prisão, Foucault promove um deslocamento essencial sobre os motivos aparentemente circunstanciais do surgimento da prisão e acentua que desde o começo ela deveria ser um instrumento tão aperfeiçoado de transformação e ação sobre os indivíduos como a escola, o exército ou o hospital.
O autor chama-as de instituições de seqüestro, em razão de que a reclusão submetida, não pretende propriamente "excluir" o indivíduo recluso, mas, sobretudo, "incluí-lo" num sistema normalizador.

Ao falar sobre seu interesse pelo estudo da prisão Foucault afirma:
"A sociologia tradicional colocava o problema nos seguintes termos: como a sociedade pode fazer indivíduos coabitarem?... Eu estava interessado no problema inverso, ou, se preferir, na resposta inversa para esse problema: através de que jogo de negação e recusa a sociedade pode funcionar? Mas a questão que hoje me faço se transforma: a prisão é uma organização complexa demais para ser reduzida a funções negativas de exclusão: seu custo, sua importância, o cuidado com sua administração, as justificativas que se procura lhe dar parecem indicar que ela possui funções positivas."

Com efeito, ao empreender esse trabalho, o que mais ocupa Foucault, evidentemente, é a explicação de como o poder atravessa o conjunto da sociedade através de procedimentos de disciplina que reprimem os corpos dos indivíduos.
Quanto mais poder conseguir produzir, mais deverá sujeitar e gerenciar. Nesse confronto retira-se um efeito útil, “uma notável solução”, como disse Foucault: o aparecimento da disciplina.

Foucault observa sobre esse período o seguinte:
" É interessante notar que a prisão não será uma pena do direito, no sistema penal dos séculos XVII e XVIII. Os legistas são perfeitamente claros a este respeito. Eles afirmam que, quando a lei pune alguém, a punição será a condenação à morte, a ser queimado, a ser esquartejado, a ser marcado, a ser banido, a pagar uma multa, etc. A prisão não é uma punição."

Quando o indivíduo perde o processo e é declarado culpado, ele deve ainda uma reparação à sua vítima, isto é, exige-se do culpado não somente a reparação da ofensa que cometeu contra o soberano, a lei e o poder monárquico. Assim é que aparecem os mecanismos da multa, da condenação à morte, do esquartejamento, do banimento, etc.
No âmbito do direito penal, passa-se a enunciar os crimes e os castigos que preconizam o controle e a reforma psicológica e moral das atitudes e do comportamento dos indivíduos, diferente daquela prevista no século XVIII, que visava tão somente a defesa da sociedade.
Ressalta Foucault que a prisão, nesse momento, remete a palavras e conceitos completamente diferentes, como a delinqüência e o delinqüente, que exprimem uma nova maneira de enunciar as infrações, as penas e seus sujeitos.
Esta fase mais evoluída consiste na reforma penitenciária, pois destitui a prisão de sua exemplaridade, fazendo-a voltar ao estado de agenciamento localizado, restrito e separado.
As técnicas disciplinares serão substituídas pelo modelo técnico de cura e normalização. Funcionará como terapêutica da retificação do indivíduo, e a sentença judicial se inscreverá entre os discursos do saber, implicando num baixo grau de exigências do diagrama de disciplina.
Nesse estudo interrogando as formações históricas, Foucault descobriu uma engenharia que atravessa quase meio século, praticamente despercebida, enquanto estratégia ou tática de poder.
Aparece, contudo, como uma mecânica de observação individual, classificatória e modificadora do comportamento, uma arquitetura formulada para o espaço da prisão, ou para outros agenciamentos, tais como: a fábrica, a escola, o manicômio. Essa maquinaria era o Panopticon, idealizada por Jeremy Bentham em 1791, e que se tornou o programa mestre da maior parte dos projetos de prisão por volta de 1830-1840.

"O Panopticon era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel se dividia em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário trabalhando, um prisioneiro se corrigindo, um louco atualizando sua loucura, etc. Na torre central havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nela nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que fazia o indivíduo estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de venezianas, de postigos semicerrados de modo a poder ver tudo, sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. Para Bentham esta pequena e maravilhosa astúcia arquitetônica podia ser utilizada por uma série de instituições. O Panopticon é a utopia de uma sociedade e de um tipo de poder que é, no fundo, a sociedade que atualmente conhecemos - utopia que efetivamente se realizou. Este tipo de poder pode perfeitamente receber o nome de panoptismo. Vivemos em uma sociedade onde reina o panoptismo."
Com o Panopticon vai se produzir algo totalmente diferente. Não há mais inquérito, e sim vigilância e exame. O panoptismo teve uma tríplice função: a vigilância, o controle e a correção.

Em Vigiar e Punir, Foucault observa ainda que:

"...o Panóptico não deve ser compreendido como um edifício onírico: é o diagrama de um mecanismo de poder levado à sua forma ideal; seu funcionamento, abstraindo-se de qualquer obstáculo, resistência ou desgaste, pode ser bem representado como um puro sistema arquitetural e óptico: é na realidade uma figura de tecnologia política que se pode e se deve destacar de qualquer uso específico."

A forma como se exercem esses mecanismos de vigilância, controle e correção sobre o indivíduo, pode ser percebida, por exemplo, no interior da prisão, quando o preso está submetido a um saber clínico, de observação, através das complexas técnicas de exame da Psicologia, Psiquiatria, Psicopatologia, Criminologia, Antropologia e Sociologia.
Ao escolher esse método de trabalho, denominado topológico, Foucault terá como preocupação a compreensão de uma série de arquivos, decretos, regulamentos, registros de prisões ou de hospitais e atos de jurisprudência. Acentua que ali se encontram os pontos de confronto, combate, linhas de força e tensões que constituirão precisamente nas articulações entre o saber e o poder.

Escreve Foucault:

"...realizei a análise de um saber cujo corpo visível não é o discurso teórico ou científico, nem a literatura, mas uma prática cotidiana e regulamentada."

O que Foucault realmente quis atingir foi romper com o exibicionismo contemplativo que a sociedade tem diante das instituições, em particular aquelas que excluem, controlam, reformulam os corpos dos indivíduos, desmistificando-as e demonstrando que ali se instalam infinitos mecanismos de saber e poder.
Esta nova história considera as instituições como um sistema de dominação e resistência, ordenado por complexos rituais de troca e comunicação.
Foucault aponta que as prisões se tornam objetos históricos significativos quando nos mostram, no rigor de seus rituais de poder, os limites que governam o exercício do poder.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1977. 277p.
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domingo, 27 de março de 2011

1º ANOS - CREI : RENE DESCARTES, FRANCIS BACON, AUGUSTE COMTE

ALUNOS DOS PRIMEIROS ANOS - 2011
IDOLOS DE FRANCIS BACON

É no Novo Órganon que Bacon dá vida à lógica. Para se estabelecer o progresso da ciências primeiro temos de destruir os ídolos. Um ídolo é um retrato considerado como se fosse uma realidade, um pensamento confundido com a coisa. Uma deturpação, um erro, que está arraigado na mente e nas atitudes humanas. Bacon nomeia quatro ídolos: primeiro os ídolos da tribo, são normais em toda a humanidade. O homem, sendo o padrão das coisas, faz com que todas as percepções dos sentidos e da mente sejam tomadas como verdade, sendo que pertencem apenas ao homem, e não ao universo. Bacon compara a mente aos espelhos côncavos e convexos que desfiguram a realidade. São muitos os ídolos da mente, que simplificam o mundo e causam superstições. A percepção do homem está moldada para reduzir o complexo ao simples, realçando o que lhe é favorável. É a inércia do espírito, e estaria presente na astronomia, na cabala e na astronomia. Segundo Bacon, pensamentos retratam o homem mais que o objeto. Deve-se ter muitos cuidados ao lidar com esses ídolos, pondo sob suspeita suas convicções.

O segundo tipo de ídolo são os da caverna (uma alusão à alegoria da caverna de Platão), são os erros peculiares de cada indivíduo, cada pessoa tem sua caverna ou toca particular que descolore e refrata a luz da natureza. É formada pela disposição do corpo e da mente. A tendência do indivíduo é ver tudo sob a luz de sua própria caverna.

O terceiro tipo são os ídolos do mercado, nascidos do comércio e associações entre os homens. Implicam-se na ambigüidade de palavras que impostas segundo a compreensão da multidão. Da má disposição de palavras surge a obstrução da mente. Os homens usam as palavras para designar o que dizem ser realidade, mas não designam mais que abstrações em certos casos.

Por último vem os ídolos do teatro, que tem suas origens nas doutrinas filosóficas influentes. Para Bacon os sistemas filosóficos não passam de peças teatrais, representadas num mundo irreal. São mais elegantes e compactas que a realidade. Bacon critica os clássicos gregos, chamando Aristóteles de o pior dos sofistas.

Livres dos erros que são os problemas da humanidade, deve-se partir para a Grande Reconstrução. livres e despidos de preconceitos, como as crianças. Para passar de dominado a dominador da natureza o homem deve conhecer as leis da natureza por métodos comprovados. Bacon declara várias vezes que saber é poder. No seu método de investigação distingue a experiência simples da experiência escriturada. A simples aceita-se como se manifesta, é um acidente. São noções recolhidas quando se opera ao acaso. A segunda vem quando o investigador, que já está preparado, observa a experiência metodicamente e faz experimentos. Assim, o investigador tem enumerar todas as ocorrências e ausências do fenômeno. Depois deve comparar as ocorrências entre si. Então se observa na experiência a variação, a prolongação, a transferência, inversão, compulsão, união e mudança de condições. Então chega-se às instâncias prerrogativas, que forças as investigações em um sentido. As mais importantes dentre as vinte e sete são as solitárias, as imigrantes, as ostensivas, as analógicas e as cruciais. Bacon formula a teoria da indução, que serve para descrever minuciosamente os cuidados, técnicas e procedimentos para a investigação dos fenômenos naturais. O final de tudo isso seriam as formas das coisas. Muitos traças paralelos entre as teorias das formas de Bacon e a teoria das idéias de Platão. Bacon. aliás achava que Platão era um teólogo idealista, que confundia a teologia com a filosofia. É uma metafísica da ciência. As formas pertencem ao mundo empírico, são a realidade por excelência, leis e causas dos fenômenos naturais. Quando se conhecerem as formas das coisas haverá matéria prima para a Utopia. Na Nova Atlândida, publicada dois anos antes da morte de Bacon, ele descreve uma ilha que, com a abundância de força juntada ao rigor científico e ao trabalho permite uma organização justa das estruturas sociais e econômicas. Seria governada pela Casa de Salomão, um santuário de sabedoria. Não há políticos.

Bacon influenciou muitos filósofos com Hobbes e Locke, também ingleses. Chamado de arauto da ciência, primeiro dos modernos e último dos antigos, Bacon captou a transformação que a mente humana passava na sua época, e que evoluiu ainda mais depois. Propõe o domínio da natureza em favor do homem e assim vem acontecendo cada vez mais, a ponto de chegarmos à uma degradação ambiental alarmante. O homem, para Bacon, só deve prestar contas ao Estado e à Deus. Se deus existe na natureza e dominamos ela, quem parará o homem? É o começo de um processo que tirou o mágico da mente humana em favor da razão e da transformação da matéria e culminou no capitalismo industrial.

EM SUMA

Quatro são as espécies de ídolos que bloqueiam a inteligência humana. Para melhor entendimento, designei-os com certos nomes: os da primeira espécie são ídolos da tribo; da segunda espécie, os ídolos da caverna; da terceira espécie, os ídolos do foro; da quarta, os ídolos do teatro. A formação de noções e princípios por meio da verdadeira indução é, sem dúvida, o remédio adequado para afastar e destruir os ídolos. É, porém, de grande utilidade explicar em que consistem os ídolos. Pois a teoria dos ídolos guarda, com respeito à interpretação da natureza, a mesma relação que a teoria dos elenco sofísticos com a dialética corrente. Os ídolos da tribo se plantam na índole da própria natureza humana na mesma tribo ou espécie humana. Porque é sem razão que se afirma que o sentimento humano é a medida das coisas. Muito ao contrário: todas as percepções, tanto dos sentidos como da inteligência, guardam mais analogia com o homem do que com o universo. O entendimento humano é uma espécie de espelho que não reflete de igual maneira os raios das coisas. Sua natureza o confunde com as coisas, e deste modo as deforma e corrompe.

Os ídolos da caverna são os ídolos próprios do homem considerado como indivíduo, porque cada homem traz consigo, além dos erros que afetam a natureza humana em geral, uma caverna ou gruta particular, que desvia ou adultera a luz da natureza: tanto pela índole própria e singular de cada um, como por sua educação e convívio com os outros, tanto pela leitura dos livros e a autoridade das pessoas com que cada um trata e a que admira, como, enfim, pela diferença das impressões, que podem verificar-se num espírito preocupado e ressentido, ou num espírito sereno e tranquilo. De modo que, manifestamente, o espírito humano, tal como se acha constituído em cada homem, é uma coisa variável, profundamente alterada e, até certo ponto, aleatória. Por isso, bem disse Heráclito que os homens buscam a ciência no pequeno mundo, e não no grande, o universal.

Há também ídolos procedentes, em certo modo, da reunião e aliança recíproca dos indivíduos pertencentes à espécie humana, aos quais chamaria ídolos do foro, porque derivam do comércio e da associação humana. Os homens, com efeito, se associam por meio da linguagem, mas as palavras se empregam com o sentido que têm na boca do povo. Por conseguinte, o emprego indevido e inadequado das palavras estabelece estranhas dificuldades ao estabelecimento humano. Nem as definições nem as explicações com que os homens doutos costumam proteger-se e defender-se em alguns assuntos conseguem, de qualquer forma, restituir a coisa à sua verdadeira situação. Pois as palavras pressionam, sem dúvida, o entendimento, e perturbam tudo, arrastando os homens a inumeráveis controvérsias e comentários sem sentido.

Existem, finalmente, ídolos que se insinuam no ânimo dos homens através dos dogmas dos sistemas filosóficos e, inclusive, dos piores métodos da demonstração. É o que chamam de ídolos do teatro. Pois, quantas forem as filosofias inventadas e admitidas, tantas serão, em nosso entender, as fábulas criadas e representadas, que reproduzem a figuração de mundos fictícios e teatrais.

Não falamos apenas da filosofia atual ou das filosofias e seitas antigas. Há sempre margem para imaginar e construir muitas outras semelhantes; as causas de erros até diversos entre si são quase as mesmas. Também não nos referimos somente à filosofia em geral, mas também a muitos princípios e axiomas das ciências, que acabaram se tornando vigentes graças à tradição, à credulidade e à irreflexão. Todavia, com relação a cada uma dessas espécies de ídolos, falaremos com mais detalhes e clareza, para alertar o entendimento humano.

Os ídolos do foro são os mais perigosos. Insinuam-se no entendimento através da linguagem. Os homens, com efeito, crêem que sua razão governa as palavras. Mas acontece também que as palavras projetam sua força sobre o entendimento, o que converte a filosofia e as ciências numa coisa sofística e inútil. As palavras, quase sempre revestidas do sentido que lhes dá o povo, recortam as coisas pelas linhas de percepção mais acessíveis à inteligência vulgar. Pois bem: quando uma inteligência dotada de maior perspicácia, ou uma observação mais diligente quer transformar essas linhas para que coincidam melhor com a natureza das coisas, as palavras o impedem. Ai está exatamente a raiz das grandes e solenes disputas dos homens doutos, que degeneram em discussões sobre o sentido das palavras. Seria, assim, mais pudente começar seguindo o uso e a prudência dos matemáticos, colocando as coisas em ordem, por meio de uma definição.

RENÉ DESCARTES
Descartes afirmou no Discurso do Método, que quanto mais estudava mais se apercebia de sua ignorância (parece um pouco com Sócrates, não é?). No livro Os princípios da filosofia afirma que a filosofia é como uma árvore, as raízes são a metafísica e a ciências como a medicina, a mecânica e a psicologia os ramos da árvore. A psicologia não era muito desenvolvida na época de Descartes. Descartes critica a lógica dialética, afirma que ela parte de verdades já conhecidas e é inútil para desvendar novas verdades. Também critica a matemática, pois, apesar de fornecer conclusões irrefutáveis, muitas vezes possui regras em demasia, sem nenhum fim prático, sendo muito abstrata. Descartes criou a geometria analítica, determinando um ponto do espaço no plano cartesiano. A geometria analítica estuda as curvas, superfícies e figuras geométricas, tendo relação com algumas equações. Essas equações podem ser aplicadas no plano formado pelas absissas e ordenadas. Assim a álgebra e a geometria foram unidas por Descartes que muito se orgulhava de sua descoberta. Ele também introduziu alguns discursos de óptica. Aplicou o raciocínio matemático nas regras de seu método. Pois era preciso usar a razão para se chegar à verdade universal. Descartes sempre buscou o avanço da ciência, e quando ela conhece a natureza se torna senhora dessa. Apesar de ter ainda alguns resquícios da escolástica, Descartes se esforçou para ir além e chegar no pragmatismo. Toda a escolástica e o edifício da ciência aristotélica faziam parte do passado. E com Descartes dá a entender era preciso ir para a frente. Por isso ele é considerado o fundador da filosofia moderna. No seu estilo claro mas pleno de construções, demonstrações e imagens ele nos dá as quatro regra do método:

a) jamais acolher algo como verdadeiro, a não ser que seja absolutamente evidente, e não acolher no juízo o que não seja claro e indubitável. É a regra da evidência.

b) a segunda regra, que tem um jeito matemático , diz para dividir as dificuldades em quantas partes fosse possível e necessário para resolvê-las.

c) a terceira regra é conduzir com ordem os pensamentos, começando com os mais simples e indo para os mais complicados, dos mais fáceis de conhecer para os compostos. Descartes também afirma, em outro trecho, que não se fia nos primeiros pensamentos. Na terceira regra é preciso fazer uma síntese da realidade complexa, que foi decomposta em partes menores.

d) a última consiste em fazer em toda a parte enumerações e revisões completas, para nada se omitir.

Leibniz zombou da aparente banalidade do método. Descartes aplicou-o e afirma que ele facilitou o desvelamento de certas questões, usando a razão como instrumento para tirar as dúvidas. Ele adverte que é um método que usou exclusivamente para si, como uma maneira de dirigir seu pensamento. Pois a razão, (bom senso) para Descartes, é o que há de mais bem distribuído no mundo, e o que diferencia a capacidade é o modo como cada um conduz seus pensamentos, chegando à resultados diferentes.

Como uma pessoa que está construindo uma casa, e necessita de um local para dormir enquanto a obra está sendo feita, Descartes fez uma moral provisória, para não permanecer irresoluto em suas ações. A primeira máxima é obedecer as leis e costumes de seu país. A segunda é ser firme e resoluto em suas ações e não ir adiante nas opiniões duvidosas ou falsas. Assim, com essa determinação podemos ser capazes de distinguir o que não é verdade. Descates afirma que cada homem possui a noção inata do que é verdade. Deus dá essa noção, se, por intuição, temos muita certeza de uma coisa , ela é verdade. nesse ponto, Descartes valoriza a intuição, ao lado da razão. A menor distância entre dois pontos é uma reta, e não devemos ter remorsos de nossos atos. Descartes pretendia com isso se livrar de ter um espírito fraco e vacilante. A terceira máxima moral é primeiro vencer a si próprio, depois a fortuna, o destino. Primeiro modificar os desejos pessoais, e não a ordem do mundo. Tudo o que Descartes diz ter realmente em seu poder são os seus pensamentos. Assim nossa vaidade não toma conta e não remoemos nossos infortúnios nem lamentamos a falta de riqueza ou virtude.

Descartes prossegue dizendo que a melhor ocupação é cultivar a razão. É o que melhor podemos fazer, pois é impossível dominar o universo e o que não atingimos é inacessível. Descartes, ficou rolando nove anos pelo mundo, vivendo sem luxos desnecessários, e solitário. Realizando meditações metafísicas, chegou à dúvida metódica. Para se passar do pequeno Eu, (que é subjetivo e depende de muitos fatores para ser conclusivo) para o mundo objetivo é necessário tomar como certas algumas coisas. Mas, supondo que tudo o que se vê é falso, sua memória é cheia de mentiras. Nesses parâmetros, a única coisa verdadeira é que não há nada de certo no mundo. Descartes realça que não estava sendo cético, pois esses são indecisos e ele buscava a verdade através da dúvida. Pois há uma força que engana sempre. Mas se ela engana, não se pode negar que se está recebendo a ação. Mesmo se não houver diferença entre o sonho e o estado acordado, ele pensa enquanto duvida. Assim Descartes chegou à verdade Penso, Logo existo (em latim: Cogito, ergo sum). Por pensamento Descartes considera tudo o que é de fato, e que nós nos tornamos conscientes disso. São pensamentos todas as operações intelectuais e da imaginação, bem como da vontade. Assim Descartes se fecha em sua subjetividade, na sua mente e pôde supor que não existe mundo. Mas a sua alma existe, e ela é puro pensamento. E um tópico interessante de sua teoria é a dualidade. A alma é uma substância distinta do corpo. E antes de confirmar como verdadeira a existência física do mundo, Descartes demonstra a existência de deus. Afirma que quem conhece é mais perfeito do que quem duvida. Tudo aquilo que ele conhece tinha de vir de alguma coisa. Ele acha que é necessário existir algo a quem ele depende e que seja perfeito. É a lei da causalidade, Deus é causa final de tudo. Descartes desenvolve o argumento ontológico para a existência de Deus. Antes dele, Santo Anselmo já o tinha feito. O Deus cartesiano é infinito, imutável, independente, onisciente, criador e conservador. Deus é uma idéia inata, que já vem junto com o nascimento. Deus garante a objetividade do mundo. Existem também as idéias factícias, construídas por nós mesmos, e as adventícias, que vem de fora. Descartes diz que existe uma luz interior dada por Deus, que dá confiança e certeza, pois é impossível que Deus seja mentiroso e enganador. E nossa consciência de Deus, do infinito, essa percepção que o homem pode ter da divindade e da perfeição é como “a marca do artista em sua obra”. Hegel mais tarde afirmou que é impossível ao homem conhecer o infinito, pois ele só pode empregar categorias finitas. E o ser humano erra, erro que provém do juízo. E no juízo o intelecto e a vontade influem. A pressão, influência da vontade sobre o intelecto se não for bem administrada resulta no erro do juízo. Como em Santo Agostinho, é o mau uso do livre arbítrio que faz o errado surgir. Meu intelecto como tal, em si, não é errado, mas meus pensamentos e atos podem ser.

Descartes afirma que a realidade exterior pode ser conhecida através da razão. As propriedades quantitativas são evidentes para a razão, as propriedades qualitativas são evidentes para os sentidos. Descartes fala da existência das substâncias, como a já citada alma e a extensão, ou matéria. A matéria ocupa lugar no espaço e pode ser decomposta em partes menores. Existe só um tipo de matéria no universo. O universo é composto de matéria em movimento. Não existe o espaço vazio, ou o vácuo dos atomistas. Visando a análise científica racional, Descartes chega à conclusão que os animais e os corpos humanos são autômatos, como máquinas semelhantes ao relógio. Na quinta parte do Discurso do Método, ele faz uma descrição fisiológica, o corpo é uma máquina de terra, construído por Deus, e suas funções dependem das funções dos órgãos. A alma está ligada ao corpo por uma glândula cerebral, onde ocorre a interação entre espírito e matéria. Na teoria mecanicista de Descartes, o corpo é uma máquina e deve entregar o controle das ações para alma. E Descartes afirma que a soma de todos os ângulos de um triângulo sempre será igual à dois retos. Essa frase foi tomada por Spinoza, a quem Descartes influenciou, e significa uma verdade, independente dos vai-e vem das opiniões baseadas nos sentidos.

AUGUSTE COMTE
Positivismo é a doutrina criada por Augusto Comte que sugere a observação científica da realidade, cujo conhecimento viabilizaria o estabelecimento de leis universais para o progresso da sociedade e dos indivíduos. Comte acreditava ser possível observar a vida social por meio de um modelo científico, interpretando a história da humanidade, e a partir dessa análise, criar um processo permanente de melhoria e evolução. Esse processo estaria dividido em estágios inferiores ? fase teológica e fase metafísica ? até alcançar um nível superior ? fase positivista. Para Comte, a ordem era a base do progresso social, apesar de visualizar somente o caos e a anarquia, por isso ele abominava tanto a revolução quanto a democracia. O modelo positivista de regime é republicano, porém estruturado sob a forma de uma ditadura científica. Um dos princípios do positivismo é a separação entre o poder religioso e o poder civil, somente homens esclarecidos e honestos seriam os verdadeiros sacerdotes do saber. Esta sabedoria seria transmitida aos ditadores ilustrados e, estes teriam condições de comandar o Estado e as classes inferiores. Comte também defendeu a universalização do ensino primário e o amparo ao proletariado. No Brasil, a doutrina positivista teve grande repercussão, norteando uma reforma autoritária no Rio Grande do Sul, no governo de Júlio de Castilho, em 1893, e posteriormente pelo Estado Novo. O lema da bandeira brasileira - Ordem e Progresso ? é na verdade um pressuposto do positivismo de Comte.

SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA:

Ocorreu após as grandes transformações iniciadas no séc. XVII com o declínio do conhecimento religioso e a constituição de uma nova forma de conhecimento – o conhecimento científico. No séc. XVIII duas grandes revoluções (a Revolução Francesa e a Revolução Industrial) consolidam estas mudanças (que caracterizam a passagem da sociedade feudal para a sociedade capitalista) iniciando um novo período marcado pelo cientificismo e pela racionalidade. No séc. XIX com a eclosão de graves problemas sociais e uma maior visibilidade das desigualdades sociais surge o “social” enquanto um problema a ser investigado e analisado, buscando a reorganização da vida social.

Isto se constituiu num grande desafio para os cientistas da época:
“Os primeiros sociólogos construíram conceitos voltados para a tentativa de interpretar por critérios científicos a realidade social. Esse foi o primeiro embate vivido por tal ciência, que é uma das marcas centrais do mundo ocidental moderno, uma vez que o passo a ser dado implicava superar, por meio da razão, os ditames colocados pelos ensinamentos do senso comum, que até então dominavam a maior parte das interpretações e explicações sobre o sentido da ação coletiva humana”. (FERREIRA, 2001,pág. 32)
Os estudos clássicos de Sociologia enfatizavam ou a ação individual ou a ação coletiva. Weber privilegia o papel ativo do indivíduo na escolha das ações sociais, enquanto Durkheim enfatiza o papel da sociedade e de suas instituições e outros autores ressaltam a importância ao conjunto das práticas que definem as próprias relações sociais entre indivíduo e sociedade (Karl Marx). É o que veremos mais detalhadamente a seguir.
A Sociologia constitui-se numa forma de conhecimento, uma ciência. Mas afinal o que é a Sociologia?

“é o estudo científico das interações de indivíduos e grupos, orientadas por significados intermentais, principalmente aqueles significados derivados da cultura, em função de objetivos e interesses específicos para cada situação social” (Villa Nova, 2000, pág. 195).