segunda-feira, 28 de março de 2011

2º ANOS - CREI: EXCLUSÃO SOCIAL: FAVELAS, EMILE DURKHEIM, ESCOLA DE CHICAGO, MICHEL DE FOUCAULT,

ATIVIDADE DE SOCIOLOGIA 2º ANOS - COLÉGIO JESUS CRISTO REI - 2011 !
OLÁ ALUNOS, LEIAM O TEXTO ABAIXO, E RESUME-O.
Ricos e pobres, cada qual em seu lugar: a desigualdade socio-espacial na metrópole paulistana

EMILE DURKHEIM
Durkheim assistiu e participou de acontecimentos marcantes e que podemos notar diretamente em sua obra, pelas conseqüências diretas da derrota francesa e das dívidas humilhantes da guerra, e por uma série de medidas de ordem política.
Vivenciou em momento de crises econômicas, onde provocaram conflitos entre as classes trabalhadoras e os proprietários dos meios de produção, influenciando assim, sua afirmação de que os problemas da sociedade européia eram “morais” e não econômicos, acontecendo freqüentemente devido à fragilidade da época.
Desenvolveu um método próprio para seus estudos, incluindo o suicídio, devido ao enorme índice constatado por ele. Acreditava também, que os seus estudos pudessem ajudar a sociedade futuramente.
Seu posicionamento frente às mudanças é defender a tese de que a Sociologia é “uma ciência essencialmente francesa”, dado seu nascimento com Augusto Comte. E que a atividade intelectual sociológica de seus discípulos foi superada pelas preocupações políticas. E a Sociologia imobilizou-se durante toda uma geração na França. Mas prosseguira, enquanto isso, seu caminho na Inglaterra, A França pós-napoleônica e viveu um período marcante que só se interromperia momentaneamente com a Revolução de 1848. Podemos notar a preocupação de Durkheim quando pensava e/ou dizia:

“... É tempo de entrar mais diretamente em relação com os fatos, de adquirir com seu contato o sentimento de sua diversidade e sua especificidade, a fim de diversificar os próprios problemas, de determinar e aplicar-lhes um método que seja imediatamente apropriado à natureza especial das coisas coletivas...”

Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituições são valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputação de conservador, que durante muitos anos causou antipatia a sua obra. Mas Durkheim não pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituições se baseia num ponto fundamental, o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras, sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. O homem que inovou construindo uma nova ciência inovava novamente se preocupando com fatores psicológicos, antes da existência da Psicologia.
A sociologia, entretanto, permaneceu embrionária durante um longo período, percebendo Durkheim, de que a sociedade era basicamente um produto da ação humana, fruto, pois da arte e da reflexão das pessoas. Havia um certo consenso em relação a este pressuposto racionalista em que o coletivo seria uma construção deliberada de um grupo. A sociedade deveria ser vista e estudada como um fato natural, e, portanto deveria ser regida pelas mesmas leis da natureza, apenas foi encontrar eco. Fora da sociedade o homem não existe, ele se torna egoísta. Acentua um reaquecimento dos ideais coletivos para garantir coesão social.
Ele parte do princípio que o homem seria apenas um animal selvagem que só se tornou Humano porque se tornou sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social para poder conviver no meio deste. A este processo de aprendizagem, Durkheim chamou de “Socialização”, a consciência coletiva seria então formada durante a nossa socialização e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. E esse “tudo” ele chamou de “Fatos Sociais”, e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.
Durkheim acreditava que as sociedades têm prioridade lógica sobre os indivíduos, porque se a solidariedade mecânica precede a solidariedade orgânica, não se pode explicar a diferenciação social a partir dos indivíduos, pois a consciência de individualidade não pode existir antes da solidariedade orgânica e da divisão do trabalho social. Acreditando em duas formas de solidariedade social podem ser constatadas: a Solidariedade mecânica típica das sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam. Reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. E a solidariedade orgânica, característica das Sociedades
Capitalistas, onde, através da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos costumes, tradições etc. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes e necessários, como os órgãos de um ser vivo. Assim, continuava dando efeito na divisão do trabalho não um aumento da produtividade, mas a solidariedade que continuaria a gerar entre os homens.Durkheim deixa claro que, o importante para ele é que o indivíduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica interiorizada e não meramente mecânica.
Daí que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade, e não a coletividade pelos fenômenos individuais. Onde a divisão do trabalho ser um fenômeno social que só pode ser explicado por outro fenômeno social, como a combinação do volume, densidade material e moral de uma sociedade, sendo que o único grupo social que pode proporcionar a integração dos indivíduos na coletividade é a corporação profissional.
Durkheim propõe, com sua sociologia formular uma teoria do fato social, demonstrando que pode haver uma ciência sociológica objetiva e científica, como nas ciências físico-matemáticas. Para que haja tal ciência são necessárias duas coisas: um objeto específico que se distinga dos objetos das outras ciências e um objeto que possa ser observado e explicado, como se faz nas ciências.
Podemos dizer que o método sociológico de Durkheim apresenta algumas idéias centrais, que percorrem toda a extensão de sua visão sociológica. São elas:
Contraposição ao conhecimento filosófico da sociedade: A filosofia possui um método dedutivo de conhecimento, que parte da tentativa de explicar a sociedade a partir do conhecimento da natureza humana. Ou seja, para os filósofos o conhecimento da sociedade pode ser feito a partir de dentro, do conhecimento da natureza do indivíduo.
Os fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos: a sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana, mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana é, na verdade, produto da própria sociedade. Os fenômenos sociais são considerados por Durkheim como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim externamente a ele na própria sociedade e na interação dos fatos sociais.
Os fatos sociais são uma realidade objetiva: ou seja, para Durkheim, os fatos sociais possuem uma realidade objetiva e, portanto, são passíveis de observação externa. Devem, desta forma, ser tratado como "coisas".
O grupo (e a consciência do grupo) exerce pressão (coerção) sobre o indivíduo: Durkheim inverte a visão filosófica de que a sociedade é a realização de consciências individuais. Para ele, as consciências individuais são formadas pela sociedade por meio da coerção. Para Durkheim estamos no caos devido à falta de moral na sociedade. A moral está ligada ao consciente coletivo, e só através deste podemos moldar nossa atuação social, particular, intelectual e econômico, encarando a moral como social.
Para Durkheim existem regras morais a serem seguidas pelos indivíduos, pela sua maneira de ser e de agir e podem ser coagidos pelo fato social, a reações inversas exercidas pela falta de moral.
A solução estaria em seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a necessidade de se manter coeso e solidário aos outros.
Portanto para Durkheim, fatos sociais são maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com os fenômenos orgânicos nem com os psíquicos, constituem uma espécie nova de fatos. São fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas, sistemas, maneiras de agir, costumes, etc.

Para Durkheim os fatos sociais são considerados como ‘coisas’.
Fatos sociais: nem todos os fatos designados de social são fatos sociais, e há alguns que se distinguem dos estudados pelas outras ciências da natureza. O pesquisador deve isolar o fenômeno estudado de idéias individuais impostas ou pressuposto, analisando particularmente o fenômeno na forma em que se encontra, orientando-se pela natureza das coisas.

Durkheim diferencia o fato social normal do patológico.
O fato social é normal quando voltado a um tipo social delimitado, ou seja o aborto e o crime é considerado como normal, porque sempre irá existir.
Patológico quando avança esta taxa dita ‘normal’. Numa sociedade isolada das grandes civilizações são aceitas certas atitudes, comportamentos e costumes que são ‘normais’ aos habitantes desta, mas que seriam tido como atos doentios, ilegais, ‘patológicos’. ou seja, doenças e chagas.

Características dos fatos Sociais:
Generalidade: é a comunhão no pensar, agir e sentir de um grupo de pessoas. Todos tem os ‘mesmos’ comportamentos, seguem os mesmos parâmetros e limites.
Exterioridade: é aquele fato que este intrínseco no indivíduo. Mesmo que o indivíduo queira roubar, matar ou cometer qualquer ato ilícito, ele não o fará, mas não por que está proibido pela lei para tais atos, mas por estar acima de sua vontade o limite do que pode ou não ser feito.
Coercitividade: É a obrigação do indivíduo a seguir determinada orientação, conceito ou norma já preestabelecida pela sociedade (Estado).

ESCOLA DE CHICAGO

A Escola Sociológica de Chicago, ou Escola de Chicago, surgiu nos Estados Unidos, na década de 1910, por iniciativa de sociólogos americanos que integravam o corpo docente do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, fundado pelo historiador e sociólogo Albion W. Small.
Tanto o Departamento de Sociologia como a Universidade de Chicago receberam inestimável ajuda financeira do empresário norte-americano John Davison Rockefeller. Entre 1915 e 1940, a Escola de Chicago produziu um vasto e variado conjunto de pesquisas sociais, direcionado à investigação dos fenômenos sociais que ocorriam especificamente no meio urbano da grande metrópole norte-americana.
Com a formação da Escola de Chicago inaugura-se um novo campo de pesquisa sociológica, centrado exclusivamente nos fenômenos urbanos, que levará à constituição da chamada Sociologia Urbana como ramo de estudos especializados.

Contexto histórico
O surgimento da Escola de Chicago está diretamente ligado ao processo de expansão urbana e crescimento demográfico da cidade de Chicago no início do século 20, resultado do acelerado desenvolvimento industrial das metrópoles do Meio-Oeste norte-americano.
Como decorrência desse processo, Chicago presenciou o aparecimento de fenômenos sociais urbanos que foram concebidos como problemas sociais: o crescimento da criminalidade, da delinquência juvenil, o aparecimento de gangues de marginais, os bolsões de pobreza e desemprego, a imigração e, com ela, a formação de várias comunidades segregadas (os guetos).
Todos esses problemas sociais (na época se utilizava o termo "patologia social") se converteram nos principais objetos de pesquisa para os sociólogos da Escola de Chicago. O mais importante a destacar é que os estudos dos problemas sociais estimularam a elaboração de novas teorias e conceitos sociológicos, além de novos procedimentos metodológicos.

Ecologia humana
Robert Ezra Park, considerado o grande ícone e precursor dos estudos urbanos, Ernest Watson Burgess e Roderick Duncan McKenzie elaboraram o conceito de "ecologia humana", a fim de sustentar teoricamente os estudos de sociologia urbana.
O conceito de ecologia humana serviu de base para o estudo do comportamento humano, tendo como referência a posição dos indivíduos no meio social urbano. A abordagem ecológica questiona se o habitat social (ou seja, o espaço físico e as relações sociais) determina ou influencia o modo e o estilo de vida dos indivíduos.
Em outras palavras, a questão central é saber até que ponto os comportamentos desviantes (por exemplo, as várias formas de criminalidade) são produtos do meio social em que o indivíduo está inserido.
O conceito de ecologia humana e a concepção ecológica da sociedade foram muito influenciados pelas abordagens teóricas do "evolucionismo social" - marcante na sociologia em seu estágio inicial de desenvolvimento -, ao sustentarem uma analogia entre os mundos vegetal e animal, de um lado, e o meio social integrado pelos seres humanos (neste caso, a cidade), de outro.
Considerando, então, a cidade como um amplo e complexo "laboratório social", as pesquisas sociológicas foram marcadas pelo uso sistemático dos métodos empíricos (para coleta de dados e informações sobre as condições e os modos de vida urbanos).

MICHEL DE FOUCAULT
Michel Foucault, ao examinar a formação histórica das sociedades dos séculos XVII a XIX, através de um estudo minucioso sobre o nascimento da prisão, debuxa um exercício do poder diferente do exercido pelo Estado, exigindo deste um repensar institucional, descortinando a história dos domínios do saber e, ainda, o interrogar do pensamento pelo próprio pensamento, no que diz respeito à análise dos preceitos de internamento.
Foucault se concentra na formação do poder como produção de toda uma hierarquia que se realiza a partir da troca entre saberes disciplinares nas mais diversas instituições, sejam elas propriamente repressivas (tal qual a prisão e as forças armadas); econômica (como as fábricas) ou até pedagógicas (como as escolas).
Segundo Foucault, nesta troca, o que caracteriza o conjunto hierárquico como vida é o poder difuso, e não o uso privado pelo topo da hierarquia.
Percebe Foucault que os séculos XVII a XIX não foram apenas um marco na regulamentação escrita dos exércitos, escolas, prisões, hospitais e fábricas, mas que se persegue principalmente uma idéia construtiva de conversão do homem em máquina.

É algo com a intenção de tornar o indivíduo útil, dócil e disciplinado através do trabalho.
Esse tipo específico de poder que se expande por toda a sociedade, investindo sobre as instituições e tomando forma em técnicas de dominação, possui, segundo Foucault, uma tecnologia e história específica, pois, atinge o corpo do indivíduo, realizando um controle detalhado e minucioso sobre seus gestos, hábitos, atitudes, comportamento, etc.
Essa ação sobre o corpo não opera simplesmente pela consciência, pois, é também biológica e corporal. É, pois, justamente esse aspecto que explica o fato de que o corpo humano seja alvo, pela prisão, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para adestrá-lo e aprimorá-lo. Isto converterá segundo Foucault, numa riqueza estratégica e numa eficácia positiva.
É, portanto, no seu livro “Vigiar e punir” que Foucault dará um novo e definitivo passo na busca do pensar de outra forma diferente das formações históricas, onde ele pondera que essa referência não exclui outras possíveis já que não é única, quer no sentido do curso sucessivo do tempo, quer no âmbito interno de uma época.
Na perspectiva de elucidar a configuração dos saberes, sua origem, seu funcionamento, e ainda demonstrar de que modo esta configuração está vinculada a modos de exercícios do poder, Foucault realça as correlações entre os discursos e a estrutura social.
A genealogia foucaultiana encara o poder tal como este o é de fato. Não procura explicar, mas expõe o que acontece, de modo a nos tornar familiar esse discurso de fatos que destroem idéias e evidências anteriores, bem como referências que apenas escondem os fatos.
O poder aparece selvagem, bárbaro, inumano e se torna evidente que este tem uma perspectiva própria, específica, irredutível.
Diante de tal fato, Foucault muda a escala de descrição e análise, onde se percebe sua atenção voltada para os detalhes do poder, daqueles que o exercem, ou a ele são submissos, confrontando-os uns com os outros.
Para Foucault devemos descartar, definitivamente, qualquer visão de conjunto da sociedade para nos voltarmos para a genealogia física do poder, pois o corpo do poder aplica-se a outros corpos, considerando assim, a lei do exercício do poder um corpo-a-corpo, uma luta, uma guerra.
O corpo político é o conjunto dos elementos materiais e técnicos que servem de armas, prolongamentos, pontos de apoio às relações de poder sobre outros corpos, gerando as prescrições, as reformas, as disciplinas, etc.
Segundo Foucault, a anatomia política desenvolve seus efeitos segundo três direções privilegiadas: o poder, o corpo e o saber. Essas direções não são isoladas uma das outras, pois, correlacionam-se.
Ensina Foucault que toda uma tradição falou do poder procurando sua origem, suas condições, suas causas, reduzindo ou aplicando-o a outra coisa, quando afirmou:

"...foi preciso esperar o século XIX para saber o que era a exploração; mas talvez ainda não se saiba o que é o poder. E Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer esta coisa tão enigmática, ao mesmo tempo visível, presente e oculta, investida em toda parte, que se chama poder."

O poder não tem essência, porque é operatório. Não é atributo, mas relação de forças que passam tanto pelos dominados quanto pelos dominadores, ambos constituindo singularidades.
O poder incita, suscita, combina, reparte, coloca em série, compõe, normaliza. Sua imagem é a luta, a batalha, a guerra. Desta forma, a repressão e a ideologia são apenas a poeira levantada pelo combate.
Foucault aponta que as leis são uma gestão de ilegalismos. Elas organizam, explicitamente, o meio de não cumprir as outras, investindo contra a concepção de liberdade negativa proposta pelos liberais, materializada na universalidade jurídica da lei.
Os ilegalismos, afirma Foucault, fazem parte dessa resistência. A lei, portanto, é a própria guerra e a sua estratégia em ato. Uma batalha de corpo-a-corpo, onde o poder não só reprime a resistência, como a faz surgir.
Em seu escrito “Vigiar e punir”, Foucault irá demarcar o nascimento da prisão no século XIX, como uma instituição de fato. Esta surge sem uma justificação teórica, aparecendo num determinado momento como necessária na construção da rede do poder para controlar todas as formas de ilegalismos, dividindo e opondo uns aos outros.
Ao focalizar explicitamente o estudo da prisão e as práticas jurídicas, Foucault opõe-se mais uma vez ao Direito clássico. Ali é afirmado ser o surgimento da prisão uma ascendência da reforma do Direito penal do século XVIII, promovida pela combinação do controle moral e social dos indivíduos na Inglaterra combinada com a instituição estatal francesa de reclusão, com local e edificação definidos.
Ao longo desse estudo sobre a prisão, Foucault promove um deslocamento essencial sobre os motivos aparentemente circunstanciais do surgimento da prisão e acentua que desde o começo ela deveria ser um instrumento tão aperfeiçoado de transformação e ação sobre os indivíduos como a escola, o exército ou o hospital.
O autor chama-as de instituições de seqüestro, em razão de que a reclusão submetida, não pretende propriamente "excluir" o indivíduo recluso, mas, sobretudo, "incluí-lo" num sistema normalizador.

Ao falar sobre seu interesse pelo estudo da prisão Foucault afirma:
"A sociologia tradicional colocava o problema nos seguintes termos: como a sociedade pode fazer indivíduos coabitarem?... Eu estava interessado no problema inverso, ou, se preferir, na resposta inversa para esse problema: através de que jogo de negação e recusa a sociedade pode funcionar? Mas a questão que hoje me faço se transforma: a prisão é uma organização complexa demais para ser reduzida a funções negativas de exclusão: seu custo, sua importância, o cuidado com sua administração, as justificativas que se procura lhe dar parecem indicar que ela possui funções positivas."

Com efeito, ao empreender esse trabalho, o que mais ocupa Foucault, evidentemente, é a explicação de como o poder atravessa o conjunto da sociedade através de procedimentos de disciplina que reprimem os corpos dos indivíduos.
Quanto mais poder conseguir produzir, mais deverá sujeitar e gerenciar. Nesse confronto retira-se um efeito útil, “uma notável solução”, como disse Foucault: o aparecimento da disciplina.

Foucault observa sobre esse período o seguinte:
" É interessante notar que a prisão não será uma pena do direito, no sistema penal dos séculos XVII e XVIII. Os legistas são perfeitamente claros a este respeito. Eles afirmam que, quando a lei pune alguém, a punição será a condenação à morte, a ser queimado, a ser esquartejado, a ser marcado, a ser banido, a pagar uma multa, etc. A prisão não é uma punição."

Quando o indivíduo perde o processo e é declarado culpado, ele deve ainda uma reparação à sua vítima, isto é, exige-se do culpado não somente a reparação da ofensa que cometeu contra o soberano, a lei e o poder monárquico. Assim é que aparecem os mecanismos da multa, da condenação à morte, do esquartejamento, do banimento, etc.
No âmbito do direito penal, passa-se a enunciar os crimes e os castigos que preconizam o controle e a reforma psicológica e moral das atitudes e do comportamento dos indivíduos, diferente daquela prevista no século XVIII, que visava tão somente a defesa da sociedade.
Ressalta Foucault que a prisão, nesse momento, remete a palavras e conceitos completamente diferentes, como a delinqüência e o delinqüente, que exprimem uma nova maneira de enunciar as infrações, as penas e seus sujeitos.
Esta fase mais evoluída consiste na reforma penitenciária, pois destitui a prisão de sua exemplaridade, fazendo-a voltar ao estado de agenciamento localizado, restrito e separado.
As técnicas disciplinares serão substituídas pelo modelo técnico de cura e normalização. Funcionará como terapêutica da retificação do indivíduo, e a sentença judicial se inscreverá entre os discursos do saber, implicando num baixo grau de exigências do diagrama de disciplina.
Nesse estudo interrogando as formações históricas, Foucault descobriu uma engenharia que atravessa quase meio século, praticamente despercebida, enquanto estratégia ou tática de poder.
Aparece, contudo, como uma mecânica de observação individual, classificatória e modificadora do comportamento, uma arquitetura formulada para o espaço da prisão, ou para outros agenciamentos, tais como: a fábrica, a escola, o manicômio. Essa maquinaria era o Panopticon, idealizada por Jeremy Bentham em 1791, e que se tornou o programa mestre da maior parte dos projetos de prisão por volta de 1830-1840.

"O Panopticon era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel se dividia em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário trabalhando, um prisioneiro se corrigindo, um louco atualizando sua loucura, etc. Na torre central havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nela nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que fazia o indivíduo estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de venezianas, de postigos semicerrados de modo a poder ver tudo, sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. Para Bentham esta pequena e maravilhosa astúcia arquitetônica podia ser utilizada por uma série de instituições. O Panopticon é a utopia de uma sociedade e de um tipo de poder que é, no fundo, a sociedade que atualmente conhecemos - utopia que efetivamente se realizou. Este tipo de poder pode perfeitamente receber o nome de panoptismo. Vivemos em uma sociedade onde reina o panoptismo."
Com o Panopticon vai se produzir algo totalmente diferente. Não há mais inquérito, e sim vigilância e exame. O panoptismo teve uma tríplice função: a vigilância, o controle e a correção.

Em Vigiar e Punir, Foucault observa ainda que:

"...o Panóptico não deve ser compreendido como um edifício onírico: é o diagrama de um mecanismo de poder levado à sua forma ideal; seu funcionamento, abstraindo-se de qualquer obstáculo, resistência ou desgaste, pode ser bem representado como um puro sistema arquitetural e óptico: é na realidade uma figura de tecnologia política que se pode e se deve destacar de qualquer uso específico."

A forma como se exercem esses mecanismos de vigilância, controle e correção sobre o indivíduo, pode ser percebida, por exemplo, no interior da prisão, quando o preso está submetido a um saber clínico, de observação, através das complexas técnicas de exame da Psicologia, Psiquiatria, Psicopatologia, Criminologia, Antropologia e Sociologia.
Ao escolher esse método de trabalho, denominado topológico, Foucault terá como preocupação a compreensão de uma série de arquivos, decretos, regulamentos, registros de prisões ou de hospitais e atos de jurisprudência. Acentua que ali se encontram os pontos de confronto, combate, linhas de força e tensões que constituirão precisamente nas articulações entre o saber e o poder.

Escreve Foucault:

"...realizei a análise de um saber cujo corpo visível não é o discurso teórico ou científico, nem a literatura, mas uma prática cotidiana e regulamentada."

O que Foucault realmente quis atingir foi romper com o exibicionismo contemplativo que a sociedade tem diante das instituições, em particular aquelas que excluem, controlam, reformulam os corpos dos indivíduos, desmistificando-as e demonstrando que ali se instalam infinitos mecanismos de saber e poder.
Esta nova história considera as instituições como um sistema de dominação e resistência, ordenado por complexos rituais de troca e comunicação.
Foucault aponta que as prisões se tornam objetos históricos significativos quando nos mostram, no rigor de seus rituais de poder, os limites que governam o exercício do poder.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1977. 277p.
Sites internet e blogs

Um comentário:

  1. Professor Mario, fiquei meio confusa quanto ao que é fato social...poderia dar exemplos?? Obrigada :)

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