Acredito que muita gente neste MUNDO, gostaria de escrever uma CARTA ABERTA ao Presidente eleito dos EUA : Barack Obama !
Abaixo, uma destas cartas boas de se ler !
Carta aberta ao presidente eleito Barack Obama, de John A. Allen Jr.
"Apenas a título de informação, ninguém da equipe de transição de Obama solicitou a minha opinião sobre as relações com o Vaticano, e eu ficaria francamente surpreso se a questão já estivesse na tela do seu radar. Outros, entretanto, já estão especulando a respeito de como as coisas vão se ajeitar. Na quarta-feira, por exemplo, a Reuters mostrou uma reportagem predizendo uma relação 'enganosa' entre Roma e a Casa Branca de Obama por causa da questão do aborto. Como um exercício de raciocínio, eu decidi colocar no papel uma carta ao presidente eleito sobre os laços entre os EUA e o Vaticano para os próximos quatro anos".
O texto foi escrito por John A. Allen Jr., do National Catholic Reporter, 07-11-2008.
"Apenas a título de informação, ninguém da equipe de transição de Obama solicitou a minha opinião sobre as relações com o Vaticano, e eu ficaria francamente surpreso se a questão já estivesse na tela do seu radar. Outros, entretanto, já estão especulando a respeito de como as coisas vão se ajeitar. Na quarta-feira, por exemplo, a Reuters mostrou uma reportagem predizendo uma relação 'enganosa' entre Roma e a Casa Branca de Obama por causa da questão do aborto. Como um exercício de raciocínio, eu decidi colocar no papel uma carta ao presidente eleito sobre os laços entre os EUA e o Vaticano para os próximos quatro anos".
O texto foi escrito por John A. Allen Jr., do National Catholic Reporter, 07-11-2008.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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Sr. Presidente eleito:
Esta carta é um pretexto para tornar as relações EUA-Vaticano, em sua administração, uma prioridade, em razão do enorme bem no mundo que pode ser realizado ao se explorar áreas naturais de interesse comum.
Eu estou ciente de que os astros podem não estão especificamente bem alinhados para tal colaboração. Um pequeno número de bispos católicos nos Estados Unidos fez afirmações durante a campanha que favoreceram seu oponente, o que pode ter deixado um pouco de gosto ruim entre alguns de seus apoiadores ou conselheiros. É também claro para todos que, excetuando uma dramática mudança de coração de sua parte, a Casa Branca e o Vaticano terão profundas diferenças durante o seu mandato sobre “assuntos de vida”, como o aborto e a pesquisa com células-tronco.
Eu gostaria de provocá-lo, entretanto, a não permitir que esses pontos obscureçam quatro realidades políticas básicas.
Primeiro, o Vaticano e os Estados Unidos precisam um do outro, independentemente de quais são suas diferenças em um dado momento histórico. O que os Estados Unidos são no campo do “poder duro”, isto é, na força militar e econômica coercivas, o Vaticano é em termos de “poder suave”, no sentido da capacidade de movimentar ações com base nas idéias. A religião é uma força motivadora poderosa nos afazeres humanos, e o papa tem o maior e mais potente púlpito do que qualquer outro líder religioso. É simplesmente ruim para todos se essas duas forças não dialogam em bons termos.
Segundo, é uma política inteligente para o senhor não negligenciar o Vaticano. Como o senhor sabe, em certa medida, a sua campanha de reeleição em 2012 já começou. O senhor venceu o voto católico em toda a parte desta vez, mas perdeu por pouco os católicos brancos. Trabalhar cooperativa e respeitosamente com o Vaticano pode ajudar o senhor e o seu partido com aquele grupo.
Terceiro, o Vaticano tem uma secular tradução diplomática de lidar com governos que, de uma forma ou outra, não seguem a linha da igreja sobre certos assuntos. Apesar desses desacordos, a diplomacia do Vaticano caracteristicamente se esforça por manter linhas abertas de comunicação e por buscar interesses comuns. Em outras palavras, eles desejarão negociar com o senhor onde eles puderem.
Quarto, o Vaticano está ansioso por boas relações com os Estados Unidos em particular, independentemente de qual partido esteja no poder. O Vaticano admira profundamente a robusta religiosidade dos Estados Unidos, em contraste com o secularismo difundido em boa parte da Europa. O Vaticano também acredita que os Estados Unidos são o seu aliado mais natural na promoção da liberdade religiosa e da dignidade humano em todo o mundo.
O potencial de colaboração é muito real, porque há numerosas áreas em que as suas posições políticas são compatíveis com o ensino social da igreja católica e os interesses diplomáticos do Vaticano. Entre os exemplos mais óbvios, estão a imigração, a justiça econômica, a paz e a proteção do meio ambiente. Em uma declaração de felicitação ao senhor nesta semana, o porta-voz do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, também expressou o desejo do Vaticano de trabalhar juntos no Iraque, na Terra Santa, com as minorias cristãs no Oriente Médio e na Ásia e de lutar contra a pobreza e a desigualdade social.
Em cada área, o senhor irá encontrar um claro histórico comprovado de ensinamento dos recentes papas e uma forte determinação de parte do aparato diplomático do Vaticano para avançar. De fato, muitos desses tópicos representam áreas em que o Vaticano estava em conflito com a administração Bush e ansiava por uma nova liderança norte-americana.
O próprio Papa Bento XVI abriu claramente a porta para uma relação de trabalho positiva.
O papa enviou um telegrama na quarta-feira chamando sua eleição de “uma ocasião histórica” e ofereceu suas orações para que Deus “apóie o senhor e o povo americano em seus esforços, junto a todos os homens e mulheres de boa vontade, para construir um mundo de paz, solidariedade e justiça”. Lombardi, do mesmo modo, expressou sua esperança de que o senhor “será capaz de unir as expectativas e as esperanças dirigidas ao novo presidente, servindo efetivamente à justiça e aos direitos, encontrando as melhores maneiras de promover a paz no mundo, favorecendo o crescimento e a dignidade das pessoas com respeito pelos valores humanos e espirituais essenciais”.
O senhor se dá conta de que nem o papa nem seu porta-voz mencionaram explicitamente o aborto ou outras áreas de discordância, e certamente o tom deles sugere que o interesse por “questões de vida” não irá excluir a cooperação em outras áreas. Pelo contrário, o Vaticano parece estar fazendo tudo o que pode para animá-la.
Posso sugerir mais uma possibilidade da parceria entre os EUA e o Vaticano? Eu acredito que há uma oportunidade histórica para a sua administração e a Santa Sé de trabalhar juntos para mover a comunidade internacional, o máximo possível, rumo ao engajamento em favor da paz e do desenvolvimento na África.
O senhor é um herói em grande parte da África, o que lhe concede um grau de capital político no continente com o qual nenhum outro líder ocidental pode concorrer. Ao mesmo tempo, 2009 está sendo planejado para ser o “Ano da África” para o catolicismo global. Ao longo dos próximos 12 meses, o Papa Bento XVI irá visitar Camarões e Angola; os bispos africanos irão realizar sua assembléia plenária em Roma; e os bispos de todo o mundo irão se encontrar em Roma para o “Sínodo da África”. Tudo isso apresenta a possibilidade de uma sinergia entre os líderes políticos e espirituais mais importantes do mundo – isto é, o senhor e o papa – para promover a paz e o desenvolvimento para a África, onde se encontram os povos mais empobrecidos e abandonados do mundo.
Se o senhor está interessado em moldar essa parceria, a escolha mais importante a se fazer é sobre quem enviar ao Vaticano como seu embaixador. Idealmente, o senhor irá se voltar para alguém que tenha a sua consideração, que terá influência política real em sua administração e que também conheça o mundo católico. O que o senhor está procurando, em outras palavras, é um democrata equivalente a James Nicholson, o primeiro embaixador no Vaticano do presidente Bush. Nicholson atuou como presidente do Comitê Republicano Nacional e ajudou a guiar o alcance do partido entre os eleitores católicos. Bush enviou um claro sinal de que, com essa nominação, ele estava interessado no Vaticano, e esse é um caso em que caberia ao senhor seguir sua liderança.
Finalmente, uma última parte de conselho não-solicitado: senhor Presidente eleito, independentemente do que mais o senhor faça, por favor, tente evitar repetir os erros da última administração democrata com relação ao Vaticano.
Em suas memórias, o ex-embaixador no Vaticano, Raymond Flynn, conta uma deprimente história de 1994 ilustrando o que eu digo. Durante o período preparatório à conferência da ONU sobre população, no Cairo, em 1994, o Papa João Paulo II convocou Flynn ao Vaticano em um sábado pela manhã para, pessoalmente, solicitar uma conversa telefônica com o presidente Clinton. Flynn transferiu a solicitação urgente para a Casa Branca naquela tarde e não obteve resposta. Ele telefonou de novo no domingo e na segunda-feira, em ambos os casos sem resultados. Frustrado, Flynn, então, tomou um avião para Washington na terça-feira. Ele tomou um chá de banco do lado de fora no gabinete do presidente naquela noite e em grande parte da quarta-feira. Finalmente, ele foi admitido à sala de discussão pré-Cairo da Casa Branca, onde foi avisado pelo secretário-assistente de Estado, Timothy Wirth, de que “ninguém tem a chance de fazer lobby sobre o presidente desta vez”. Estupefato, Flynn explicou que o Bispo de Roma não era um lobista e que seria visto como um profundo ato de desrespeito se o presidente nem ao menos falasse com ele pelo telefone. Depois de quase uma semana, Clinton finalmente concordou em atender a ligação papal.
O episódio foi sintomático de um desinteresse básico da equipe de Clinton sobre o Vaticano, que às vezes se transformava em hostilidade. O resultado foi que a relação EUA-Vaticano durante os anos Clinton foi mais freqüentemente definida por diferenças previsíveis do que por áreas construtivas de propósitos comuns. Se lhe interessar, senhor Presidente eleito, meu conselho é atender ao telefone se o papa ligar. Melhor ainda, comece o senhor mesmo a conversa. O senhor pode se surpreender com onde ela vai parar.
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Sr. Presidente eleito:
Esta carta é um pretexto para tornar as relações EUA-Vaticano, em sua administração, uma prioridade, em razão do enorme bem no mundo que pode ser realizado ao se explorar áreas naturais de interesse comum.
Eu estou ciente de que os astros podem não estão especificamente bem alinhados para tal colaboração. Um pequeno número de bispos católicos nos Estados Unidos fez afirmações durante a campanha que favoreceram seu oponente, o que pode ter deixado um pouco de gosto ruim entre alguns de seus apoiadores ou conselheiros. É também claro para todos que, excetuando uma dramática mudança de coração de sua parte, a Casa Branca e o Vaticano terão profundas diferenças durante o seu mandato sobre “assuntos de vida”, como o aborto e a pesquisa com células-tronco.
Eu gostaria de provocá-lo, entretanto, a não permitir que esses pontos obscureçam quatro realidades políticas básicas.
Primeiro, o Vaticano e os Estados Unidos precisam um do outro, independentemente de quais são suas diferenças em um dado momento histórico. O que os Estados Unidos são no campo do “poder duro”, isto é, na força militar e econômica coercivas, o Vaticano é em termos de “poder suave”, no sentido da capacidade de movimentar ações com base nas idéias. A religião é uma força motivadora poderosa nos afazeres humanos, e o papa tem o maior e mais potente púlpito do que qualquer outro líder religioso. É simplesmente ruim para todos se essas duas forças não dialogam em bons termos.
Segundo, é uma política inteligente para o senhor não negligenciar o Vaticano. Como o senhor sabe, em certa medida, a sua campanha de reeleição em 2012 já começou. O senhor venceu o voto católico em toda a parte desta vez, mas perdeu por pouco os católicos brancos. Trabalhar cooperativa e respeitosamente com o Vaticano pode ajudar o senhor e o seu partido com aquele grupo.
Terceiro, o Vaticano tem uma secular tradução diplomática de lidar com governos que, de uma forma ou outra, não seguem a linha da igreja sobre certos assuntos. Apesar desses desacordos, a diplomacia do Vaticano caracteristicamente se esforça por manter linhas abertas de comunicação e por buscar interesses comuns. Em outras palavras, eles desejarão negociar com o senhor onde eles puderem.
Quarto, o Vaticano está ansioso por boas relações com os Estados Unidos em particular, independentemente de qual partido esteja no poder. O Vaticano admira profundamente a robusta religiosidade dos Estados Unidos, em contraste com o secularismo difundido em boa parte da Europa. O Vaticano também acredita que os Estados Unidos são o seu aliado mais natural na promoção da liberdade religiosa e da dignidade humano em todo o mundo.
O potencial de colaboração é muito real, porque há numerosas áreas em que as suas posições políticas são compatíveis com o ensino social da igreja católica e os interesses diplomáticos do Vaticano. Entre os exemplos mais óbvios, estão a imigração, a justiça econômica, a paz e a proteção do meio ambiente. Em uma declaração de felicitação ao senhor nesta semana, o porta-voz do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, também expressou o desejo do Vaticano de trabalhar juntos no Iraque, na Terra Santa, com as minorias cristãs no Oriente Médio e na Ásia e de lutar contra a pobreza e a desigualdade social.
Em cada área, o senhor irá encontrar um claro histórico comprovado de ensinamento dos recentes papas e uma forte determinação de parte do aparato diplomático do Vaticano para avançar. De fato, muitos desses tópicos representam áreas em que o Vaticano estava em conflito com a administração Bush e ansiava por uma nova liderança norte-americana.
O próprio Papa Bento XVI abriu claramente a porta para uma relação de trabalho positiva.
O papa enviou um telegrama na quarta-feira chamando sua eleição de “uma ocasião histórica” e ofereceu suas orações para que Deus “apóie o senhor e o povo americano em seus esforços, junto a todos os homens e mulheres de boa vontade, para construir um mundo de paz, solidariedade e justiça”. Lombardi, do mesmo modo, expressou sua esperança de que o senhor “será capaz de unir as expectativas e as esperanças dirigidas ao novo presidente, servindo efetivamente à justiça e aos direitos, encontrando as melhores maneiras de promover a paz no mundo, favorecendo o crescimento e a dignidade das pessoas com respeito pelos valores humanos e espirituais essenciais”.
O senhor se dá conta de que nem o papa nem seu porta-voz mencionaram explicitamente o aborto ou outras áreas de discordância, e certamente o tom deles sugere que o interesse por “questões de vida” não irá excluir a cooperação em outras áreas. Pelo contrário, o Vaticano parece estar fazendo tudo o que pode para animá-la.
Posso sugerir mais uma possibilidade da parceria entre os EUA e o Vaticano? Eu acredito que há uma oportunidade histórica para a sua administração e a Santa Sé de trabalhar juntos para mover a comunidade internacional, o máximo possível, rumo ao engajamento em favor da paz e do desenvolvimento na África.
O senhor é um herói em grande parte da África, o que lhe concede um grau de capital político no continente com o qual nenhum outro líder ocidental pode concorrer. Ao mesmo tempo, 2009 está sendo planejado para ser o “Ano da África” para o catolicismo global. Ao longo dos próximos 12 meses, o Papa Bento XVI irá visitar Camarões e Angola; os bispos africanos irão realizar sua assembléia plenária em Roma; e os bispos de todo o mundo irão se encontrar em Roma para o “Sínodo da África”. Tudo isso apresenta a possibilidade de uma sinergia entre os líderes políticos e espirituais mais importantes do mundo – isto é, o senhor e o papa – para promover a paz e o desenvolvimento para a África, onde se encontram os povos mais empobrecidos e abandonados do mundo.
Se o senhor está interessado em moldar essa parceria, a escolha mais importante a se fazer é sobre quem enviar ao Vaticano como seu embaixador. Idealmente, o senhor irá se voltar para alguém que tenha a sua consideração, que terá influência política real em sua administração e que também conheça o mundo católico. O que o senhor está procurando, em outras palavras, é um democrata equivalente a James Nicholson, o primeiro embaixador no Vaticano do presidente Bush. Nicholson atuou como presidente do Comitê Republicano Nacional e ajudou a guiar o alcance do partido entre os eleitores católicos. Bush enviou um claro sinal de que, com essa nominação, ele estava interessado no Vaticano, e esse é um caso em que caberia ao senhor seguir sua liderança.
Finalmente, uma última parte de conselho não-solicitado: senhor Presidente eleito, independentemente do que mais o senhor faça, por favor, tente evitar repetir os erros da última administração democrata com relação ao Vaticano.
Em suas memórias, o ex-embaixador no Vaticano, Raymond Flynn, conta uma deprimente história de 1994 ilustrando o que eu digo. Durante o período preparatório à conferência da ONU sobre população, no Cairo, em 1994, o Papa João Paulo II convocou Flynn ao Vaticano em um sábado pela manhã para, pessoalmente, solicitar uma conversa telefônica com o presidente Clinton. Flynn transferiu a solicitação urgente para a Casa Branca naquela tarde e não obteve resposta. Ele telefonou de novo no domingo e na segunda-feira, em ambos os casos sem resultados. Frustrado, Flynn, então, tomou um avião para Washington na terça-feira. Ele tomou um chá de banco do lado de fora no gabinete do presidente naquela noite e em grande parte da quarta-feira. Finalmente, ele foi admitido à sala de discussão pré-Cairo da Casa Branca, onde foi avisado pelo secretário-assistente de Estado, Timothy Wirth, de que “ninguém tem a chance de fazer lobby sobre o presidente desta vez”. Estupefato, Flynn explicou que o Bispo de Roma não era um lobista e que seria visto como um profundo ato de desrespeito se o presidente nem ao menos falasse com ele pelo telefone. Depois de quase uma semana, Clinton finalmente concordou em atender a ligação papal.
O episódio foi sintomático de um desinteresse básico da equipe de Clinton sobre o Vaticano, que às vezes se transformava em hostilidade. O resultado foi que a relação EUA-Vaticano durante os anos Clinton foi mais freqüentemente definida por diferenças previsíveis do que por áreas construtivas de propósitos comuns. Se lhe interessar, senhor Presidente eleito, meu conselho é atender ao telefone se o papa ligar. Melhor ainda, comece o senhor mesmo a conversa. O senhor pode se surpreender com onde ela vai parar.
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